Sorte ou habilidade (Texas Hold'em)?
Uma questão bastante comentada no pôquer é se este é um jogo de habilidade ou de sorte. Essa questão é mais relevante no pôquer do que em qualquer outro jogo de informações incompletas pelo fato do pôquer ser o jogo de cartas mais jogado no mundo, sem contar que envolve apostas.
No PokerStars, maior site do jogo do mundo, em 2009, mais de 100 milhões de mãos foram observadas, estudadas, e notou-se que mais de 70% delas não chegaram no showdown, momento em que são reveladas as cartas. Com este fato já é possível deduzir que o pôquer é 70% habilidade, pois, já que nessa porcentagem as mãos não são relevadas, o fator crucial de vitória é a boa capacidade de apostar, ler mãos, entre outros. Complementando, pouco mais de 20% das mãos chegam ao fim, destes, aproximadamente, metade vence por ser a melhor possível na rodada. A outra metade perde mesmo sendo a mão favorita a ganhar. Com base nessas informações, deduz-se que o pôquer é aproximadamente, 88% habilidade.
Fora os argumentos matemáticos, que defendem que o pôquer é um jogo que envolve mais habilidade do que sorte, deve-se também considerar os aspectos teóricos que envolvem este jogo. Em defesa do argumento de que o jogo pôquer não é um jogo de pura sorte, há longos estudos e teorias apresentadas em livros de poker que se baseiam em conceitos lógicos e estatísticos e, para se distanciarem da crítica da fraude, utilizam-se de métodos científicos-matemáticos em suas teorias e técnicas propondo ao jogador a forma de jogar com maior EV (Valor esperado), isto é, uma forma mais lucrativa no longo prazo mesmo a considerar a sorte que no pôquer é comumente chamada de variância. Exemplo, num jogo de pôquer na modalidade Texas Hold'em onde há, por exemplo, três jogadores numa mesa, eles, num hipotético mas provável embaralhamento aleatório, são sorteados da seguinte forma:
- jogador 1: A♠A♦ (Ás de espadas, Ás de ouros)
- jogador 2: Q♠Q♦
- jogador 3: 4♠5♦
O Seguinte Valor Esperado (EV) é dado a cada mão, isso se todos chegaram a final de todas as rondas de apostas chamada, no Texas Holde'm, de Showdown (revelação das cartas):
- jogador 1: A♠A♦ 65,5% das vezes vencerá ao competir ao mesmo tempo com as duas mãos abaixo.
- jogador 2: Q♠Q♦ 18,5% das vezes vencerá.
- jogador 3: 4♠5♦ 16% das vezes vencerá.
Consideremos que cada jogador tem 10 fichas, e as ações que se seguem na ronda de apostas antes do FLOP são:
- jogador 1: A♠A♦ aposta 2 fichas, tendo o maior par possível.
- jogador 2: Q♠Q♦ aumenta a aposta para 4 fichas, pensando ter a melhor mão na situação.
- jogador 3: 4♠5♦ aposta 10 fichas, todas, procurando simular o maior par possível.
- jogador 1: chama a aposta do jogador 3 completando 8 fichas.
- jogador 2 chama a aposta do jogador completando 6 fichas.
Conclusão, no Texas Holdem nenhum jogador pode ver a mão do outro antes de chegarem ao showdown, no entanto, a habilidade de observação do jogador, em contrapartida com a sorte, entra em jogo nestas ações. Se o jogador 2 tivesse observado que o jogador 1 somente aposta todas suas fichas com o maior par possível AA, ele teria desistido tomando uma decisão de maior EV e economizando 6 fichas. Já o habilidoso jogador 3 queria simular (blefar) o maior par e fazer com que os outros desistissem e assim coletando as fichas do pote, mas na situação em questão ele usou uma má hora para seu blefe (do inglês bluff).
Como visto acima, o jogador 1 terá a maior probabilidade de vencer as 30 fichas mas considerando a variância, ou seja, a considerar que é matematicamente possível que os outros jogadores vençam 18,5% e 16% das vezes confrotando a mão do jogador 1, aqui o fator sorte inerente a qualquer jogo entra em ação, pode ocorrer que as cartas sejam sorteadas de tal forma que jogador 2 ou 3 venha a vencer, exemplo:
Jogador 1 com A♠A♦, Jogador 2 com Q♠Q♦, Jogador 3 com 4♠5♦:
>FLOP: 4♦ 7♠ Q♥ >TURN: 6♣ >RIVER: J♣
E assim o jogador 2 acertou em suas probabilidades de 18,5% e venceu as fichas com uma Trinca Q♠Q♦Q♥, mas é considerado que o jogador 1 ainda tomou a decisão +EV porque se a situação se repetir várias vezes, ele vencerá 65,5% das vezes. No exemplo, se a situação se repetisse 100 vezes com uma imaginária não variância das probabilidades, assim, todos os jogadores juntos teriam apostado nessas 100 vezes 3x10x100 (jogadores x fichas x repetições) = 3000 fichas, e:
- O jogador 1 teria apostado nessas 100 vezes 10x100=1000 fichas e ganharia 65,5% x 3000 = 1965 fichas com um lucro de 965 fichas,
- O jogador 2 teria apostado as mesma quantidade de fichas mas vencido 18,5% x 3000 = 555 fichas totalizando um prejuízo de +555-1000= -445 fichas e
- O jogador 3 com a mesma quantidade de fichas apostadas 16% x 3000 = 480 fichas totalizando nessas 100 repetições da situação +480-1000= -520 fichas.
Alguns outros argumentos servem para ilustrar o que o fator habilidade é o mais importante.
- Vários jogadores profissionais já ganharam o campeonato mundial por diversas vezes. Se o pôquer fosse apenas sorte, seria muito mais provável ganhar na loteria do que ganhar mais de uma vez um campeonato mundial. Doyle Brunson, por exemplo, ganhou 10 vezes o mundial.
- A inteligência pessoal é uma inteligência que pode ser desenvolvida com treino, o que aumenta a capacidade de entender a intenção das pessoas com mais clareza. Logo, pessoas destreinadas possuem desempenho pior do que os adeptos. E habilidade vem do treino.
- O pôquer é um jogo de informações incompletas. Aquele que joga com frequência está ciente de certos padrões que acontecem na mesa, fazendo com que suas informações sobre o jogo sejam menos incompletas do que a dos iniciantes, que não reconhecem esses acontecimentos repetitivos.